Situação política no final do ano lectivo 2008/2009

A luta dos professores e educadores já está derrotada?

Devido às formas de luta claramente insuficientes que os actuais dirigentes sindicais aplicaram durante os dois últimos anos lectivos, infelizmente o governo conseguiu avançar em parte com as suas pretensões (implementação de alguns aspectos da avaliação, entrada gradual de directores nas escolas lembrando o antigo Estado Novo, etc). No entanto, no passado dia 30 de Maio de 2009, dezenas de milhar de professores e educadores voltaram a manifestar todo o seu repúdio por estas políticas (des)educativas do governo PS. Apesar de todas as traições e/ou erros graves dos dirigentes sindicais, impedindo sistematicamente a possibilidade de passar a uma fase superior de luta (memorando de entendimento com o governo, sectarismo destrutivo perante os movimentos independentes por exemplo na Manifestação de 15 de Novembro, “abandono” dos docentes durante longos meses à luta individual da não entrega dos objectivos individuais, e agora à da entrega ou não da auto-avaliação, greves de dois tempos em Maio 2009 não sufragada pela base, etc, etc..) a significativa dimensão desta última manifestação demonstra que a nossa luta ainda não sofreu uma clara derrota. Continuam a existir “reservas” consideráveis de milhares de professores e educadores com vontade de continuar a lutar na defesa de uma escola pública seguindo as conquistas da revolução de Abril.

A ministra Maria de Lurdes perdeu os professores mas ganhou realmente a opinião pública?

Nas últimas eleições europeias, dezenas de conceituadas “sondagens”, que nos últimos anos supostamente “legitimaram” as políticas anti-sociais do governo Sócrates, chocaram com a realidade: o partido do governo teve o pior resultado da sua história e perdeu cerca de 600 000 votos relativamente às últimas eleições europeias, sendo o único partido a perder votos. Os docentes contribuíram de uma forma importante para esse resultado, juntamente com outros sectores igualmente atacados (enfermeiros, funcionários públicos diversos, jovens precários/desempregados sem grandes perspectivas, etc). É caso para dizer: afinal e felizmente, a ministra/governo não perdeu só os professores…

Será que a luta dos professores pode ser vitoriosa nas “eleições que se seguem”?

Apesar da importância da derrota do governo nas últimas eleições, infelizmente não podemos esperar um próximo governo ao lado da Escola pública. A actual líder da oposição, Ferreira Leite, e o seu partido semestralmente democrático (PSD) podem prometer o que quiserem, até votar agora ao lado da Escola pública na Assembleia da República (apesar de os seus deputados faltarem às dezenas precisamente no dia em que o governo perderia); no entanto, não nos podemos esquecer de que, além da Ferreira Leite ter sido uma ministra da educação que não deixou saudades aos professores, o projecto de país/sociedade que o PSD defende é estruturalmente semelhante ao do PS. Como consequência, independentemente de quem constituir o próximo governo (PS ou PSD), os interesses dos banqueiros, dos grandes empresários vão continuar a prevalecer… e isso é inconciliável com serviços públicos (Escola e Saúde) gratuitos e de qualidade para todos; e igualmente inconciliável com os direitos de centenas de milhar de trabalhadores do nosso país (nacionais e imigrantes).

Por isso, ao contrário de outros, não alimentamos ilusões de que a vitória poderá vir nas próximas eleições legislativas. Só uma luta forte, decidida democraticamente pela base, sem “pára-arranca” (como os professores chilenos demonstraram) é que nos pode garantir uma vitória real.

É impossível construir alternativas ao sindicalismo pouco democrático/combativo que temos?

Durante este ano lectivo de 2008/2009, quando uma parte substancial dos professores, incluindo os movimentos independentes, concordou que a nossa luta só poderia ser vitoriosa com formas de luta mais fortes e essas formas de luta só poderiam ser realizadas por organizações como os actuais sindicatos, os activistas que incorporaram a Lista D, dos 3R’s, foram consequentes, “arregaçaram” as mangas e propuseram-se a uma difícil tarefa: reafirmar as reivindicações da classe docente no interior do maior sindicato do país, o SPGL, e lutar por uma nova alternativa face às suas direcções tradicionais. Portanto, nas eleições do SPGL de Maio passado, pela primeira vez esteve presente uma lista que assumiu as reivindicações dos professores. Apesar de termos começado a trabalhar para essas eleições apenas com 3 semanas de antecedência e sempre a “correr contra o tempo”, logo à primeira conseguimos um surpreendente 3º lugar e 292 votos (as outras 3 listas, além de terem preparado estas eleições com uma muito maior antecedência, têm presença há mais de 15 anos no sindicato). Estes resultados importantes na única lista contra o Memorando, que defendia lutas mais fortes e a unidade de todos os trabalhadores da Função Pública contra o governo dos banqueiros, reflectiram também a forte luta que houve/há na nossa classe. Se, fazendo este trabalho para as eleições “à pressa”, conseguimos importantes resultados, muito mais é possível com mais tempo, mais candidatos e sobretudo se conseguirmos manter uma presença regular nas escolas, continuando a impulsionar todas as iniciativas que reforcem a luta justa dos professores e educadores dentro e fora dos sindicatos.

Como vimos, ainda existem dezenas de milhar de colegas com vontade de lutar. No entanto essa situação não irá manter-se indefinidamente, ou avança e poderá ser vitoriosa, ou retrocede para uma derrota mais profunda da nossa classe. Ajudar a mobilizar essas “reservas” no início do próximo ano lectivo, exigindo ou impulsionando plenários locais e/ou nacionais realmente democráticos é um dos maiores desafios para quem quer continuar, de uma forma consequente, a lutar por uma Escola de qualidade e com direitos para todos. Nós, mais uma vez, não vamos virar a cara a esse desafio e iremos estar ao lado dos nossos colegas em luta, dentro e fora dos sindicatos, em defesa de uma Escola Pública de qualidade e para todos.